Depressão… Não é só tristeza

A depressão é um distúrbio afetivo que altera o humor, envolvendo mudanças no organismo, no pensamento e no comportamento. Incapacita o doente e apresenta grande custo e sofrimento também para a família. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão atinge atualmente cerca de 7% da população mundial, na maioria, mulheres. É uma doença perigosa, que necessita de acompanhamento médico e tratamento adequado.

No senso comum, a depressão está relacionada somente ao sentimento de tristeza, preguiça ou desânimo. Geralmente, a doença causa o sentimento de infelicidade e apatia, podendo facilmente ser confundida com sentimentos naturais. Porém, também apresenta outros sentimentos menos conhecidos pela população, como o pessimismo, o desamparo, a culpa e o desespero. A lista de sintomas é grande, mas se manifestará em cada pessoa de determinada forma, de modo que apenas o deprimido pode dizer o que sente realmente.

O objetivo deste artigo é chamar a atenção para a face menos conhecida dos sintomas da depressão: irritabilidade, instabilidade, frustração, intolerância, reclamação constante, dores físicas e interpretação distorcida e negativa da realidade. Portanto, a depressão não se manifesta somente apenas pela tristeza, mas também pela raiva, agressividade e insensibilidade, que podem representar um pedido de socorro urgente. Um indivíduo constantemente zangado, raivoso e exageradamente frustrado também pode estar deprimido. Tanto em crianças quanto em adolescentes, o sintoma pode se apresentar mais frequentemente como irritação e instabilidade e menos como tristeza.

Os sintomas emocionais para o diagnóstico de depressão podem incluir, além dos sentimentos já citados, autocrítica, ansiedade, angústia, indecisão, insegurança, desesperança, baixa autoestima, inutilidade e fracasso, culminando com pensamentos suicidas. Entre os sintomas físicos, constam insônia ou hipersonia; cansaço; perda ou ganho de peso; diminuição da libido; dores diversas; raciocínio lento; e dificuldade de concentração e de memória. As mudanças comportamentais incluem afastar-se das pessoas, não realizar atividades que antes eram prazerosas e apresentar grande dificuldade em iniciar atividades.

É importante ressaltar que somente um diagnóstico médico poderá definir se os estados emocionais aqui citados são saudáveis ou patológicos, pois tristeza e irritabilidade também são sentimentos úteis em nossa vivência. O problema surge quando eles distorcem e atrapalham nossa vida íntima, social e profissional, indicando que algo não está bem. Devido à incapacidade em expressar a opressão e a angústia que sentem, alguns indivíduos terminam por externalizar seus sentimentos por meio da fúria e da agressão. Viver em constante estado de ira pode ser devastador. Por causa desses comportamentos, surgem os problemas de relacionamentos; as pessoas se afastam; e a falta de confiança se instala, interferindo na valorização de si mesmo e dos outros. O indivíduo depressivo passa a perceber as experiências como negativas e a desesperança toma conta. Um sentimento de fracasso e inutilidade pode se apresentar e, então, a vida vai perdendo todo o sentido. Por fim, todo esse processo poderá levar o sujeito a pensar que a melhor saída para si seja a morte. Nessa fase da doença, os pensamentos suicidas tornam-se frequentes.

O processo depressivo é complexo e o tratamento pode incluir medicação, psicoterapia e mudança no estilo de vida; a combinação destes é bem recomendada. Manter-se ativo parece ajudar no tratamento, ou seja, praticar algum exercício físico, realizar algo prazeroso, estar próximo de pessoas queridas e resolver um problema específico podem colaborar para que a pessoa se sinta capaz de recomeçar a “estar na vida”. A depressão é uma doença dolorosa e perigosa; portanto, quando sua suspeita existir, é necessário procurar ajuda profissional.

As dores existenciais acontecem em todos os indivíduos, de uma forma ou outra, variando as intensidades. Em alguns momentos, a tristeza ou os outros sentimentos citados anteriormente podem fazer parte de um processo natural de crescimento e amadurecimento. É preciso observar que renunciar-se constantemente em favor dos outros é ser desleal consigo mesmo. O direito de viver, sentir e se emocionar é essencial e pertence a todos. Portanto, somos responsáveis por nossa satisfação e tranquilidade. Em psicoterapia, a reorganização interior, o autoconhecimento e o fortalecimento do ego são caminhos para a recuperação do amor próprio, da saúde e da alegria em viver.

Celi Helena

Graduada em Psicologia, Especialista em Psicoterapia Junguiana, Psicossomática e Psicogerontologia. Atua na área clínica com psicoterapia, técnicas corporais de relaxamento, orientação vocacional e de carreira, programas pré e pós-aposentadoria. Participa de palestras/workshops sobre envelhecimento e preparo para a aposentadoria. CRP: 06/104040.
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