Psicossomática…O que é mesmo?

A era da modernidade trouxe grandes conquistas e avanços tecnológicos para a humanidade, mas trouxe também um número crescente de distúrbios psicossomáticos. Na incessante busca por uma melhor qualidade de vida, estamos cada vez mais distantes desse ideal e cada vez mais adoecidos. Devido à grande necessidade de adaptação por parte do organismo às novas mudanças na forma de viver, o ser humano ultrapassa seus limites quase que diariamente. Tais exigências, ocasionadas por essa constante necessidade de adaptação, geram emoções negativas, colocando-o em estado recorrente de estresse. Isto prejudica seu bem-estar psicológico, os sistemas fisiológico e imunológico, os processos cognitivos e, por consequência, afasta-o de seu objetivo inicial: qualidade de vida. Não somente num indivíduo, mas uma sociedade inteira.

A visão mecanicista e reducionista do ser humano moderno divide o corpo em partes funcional e anatomicamente isoladas e o des-integra da alma. Cada vez mais surgem especialidades médicas nas quais o sujeito é visto (e tratado) apenas como órgão em questão, ou seja, uma pequena porção de si mesmo. Estudar cada parte do corpo humano é, indiscutivelmente, necessário e nos proporciona importantes avanços na área da Medicina Tradicional. Porém, para a promoção da saúde é essencial compreendê-lo e mantê-lo por inteiro, como um ser indivisível.

A abordagem psicossomática surge no resgate do corpo e da alma, acreditando que ambos atuam em constante e contínua interdependência; compreendendo o indivíduo de forma única e integral, em uma visão biopsicossocial; e concentrando sua atenção no doente, e não na doença. A palavra “psicossomática” é formada das palavras gregas (que significa “mente”/”alma”) e soma (“corpo”). Não há como um corpo adoecido não afetar o psíquico, e vice-versa; da mesma maneira que não há como cuidar de uma psique sem que isso reflita em uma melhora no corpo. As doenças são consideradas psicossomáticas porque ocorrem na psique e no corpo concomitantemente. A correspondência entre psique e corpo está sempre presente; portanto, ocorrendo a cura dos sintomas físicos, esta também se reflete para a psique, auxiliando na saúde de forma integral.

Segundo Ballone, Ortolani e Neto (2007), o ser humano, desde que nasce, vive de acordo com o modo com o qual se relaciona com o mundo. Assim, alguns adoecem devido à desarmonia ao se relacionar com esse mundo, enquanto outros são mais adaptados e sofrem menos. O processo de somatização, ou seja, do acúmulo de vários problemas de ordem psicológica absorvidos pelo corpo, deve ser considerado como um tipo de resposta emocional, que resulta da avaliação que fazemos da realidade e nossos mecanismos pessoais de enfrentamento da situação. Portanto, as manifestações fisiológicas chamadas de somatizações podem ser entendidas como uma forma não verbal de se expressar. Quanto menos eficientes forem os mecanismos mentais ou cognitivos de sentir, falar e agir, maior será o uso do sistema somático para expressar emoções. Hoje, a Medicina Psicossomática tem se interessado em ajudar pessoas na redução do mal-estar psicológico e facilitar uma expressão emocional mais sadia, visando melhorar a qualidade de vida e a saúde das pessoas.

No trabalho em Psicologia Clínica, é crescente o número de pacientes que chegam já bastante adoecidos, encaminhados por médicos, após inúmeras idas e vindas aos centros de pronto atendimento. Tem-se observado que as pessoas estão se acostumando com as doenças e fazendo uso cada vez mais frequente de medicações e automedicações, no intuito de curar-se de forma rápida e sem grandes esforços e investimentos. Esses pacientes procuram tratar-se somente de fora para dentro, medicando o corpo e esquecendo que dentro dele habita uma psique que precisa também ser tratada, cuidada. Mas isto só acontece quando a reconhecemos e a aceitamos. Compreender que nosso corpo e mente sentem as dores um do outro nos qualifica a vida. Ignorar esses fenômenos nos credencia a simbolizar nossos temores e dificuldades em doenças físicas e mentais. Apesar do ritmo e da tensão do mundo externo, poderíamos diminuir nosso ritmo interno por meio de um encontro significativo com nós mesmos? Quantos de nós ainda precisam ser paralisados pelo medo, enrijecidos pela tensão e dominados pela razão para ter a coragem de realizar mudanças internas, fundamentais para nossa saúde?

Nosso corpo reflete nosso mundo interno, que muitas vezes pede (até grita!) por equilíbrio e harmonia. Observar a si mesmo e o mundo no qual se está inserido é uma forma de se conhcer e um caminho para se desenvolver saudavelmente. Indivíduos bem-adaptados e saudáveis podem construir uma sociedade com mais qualidade e humanidade.

Referências Bibliográficas

BALLONE Geraldo; ORTOLANI Ida; NETO Eurico Pereira. Da emoção à lesão: um guia de Medicina Psicossomática. São Paulo: Manole, 2001

Celi Helena

Graduada em Psicologia, Especialista em Psicoterapia Junguiana, Psicossomática e Psicogerontologia. Atua na área clínica com psicoterapia, técnicas corporais de relaxamento, orientação vocacional e de carreira, programas pré e pós-aposentadoria. Participa de palestras/workshops sobre envelhecimento e preparo para a aposentadoria. CRP: 06/104040.
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