Uma reflexão sobre o mundo digital

Em tempos de tecnologia exagerada e relações superficiais, antigas angústias tomam corpo em novas roupagens.

O uso excessivo desta modernidade, sem a devida reflexão, pode marcar uma existência robótica e automatizada.

Nesse post, trazemos um olhar sobre o mundo digital, sustentado pela bibliografia de Mário Sérgio Cortella, livre de “informatolatria” (adoração tecnológica), muito menos“informatofobia”(rejeição tecnológica). Boa leitura!

“Pare, olhe, escute”

Excesso tecnológico, desesperadora dependência online e intensa conectividade, “feeds” que trazem o banal como extraordinário…o que isso representa?

Para se destacar nas redes sociais e deixar de ser “apenas mais um”, muitos escolheram o caminho da auto exibição, usando o próprio corpo como “outdoor” de imagens que possam parecer exclusivas e chamem a atenção, supervalorizando ações comezinhas (o que está comendo, assistindo, visitando…) na intenção de esvaziar a futilidade daquilo que o é por natureza, justamente por ser corriqueiro.

Cabe olhar, refletir, pensar, para não ter uma vida automática, robótica e servil.

“Não é a tecnologia que torna a mente moderna, é uma mente moderna que não recusa a tecnologia quando ela é necessária”

Quando o uso obsessivo de certas plataformas digitais anulam tempo, espaço e reflexão, cabe repensar sobre qual é o real papel da tecnologia, do mundo digital e das redes sociais. Esse é o momento de “parar, olhar, escutar” e refletir como extrair o melhor do mundo digital.

“Pensar melhor”

Tecnologia, mundo digital e redes sociais precisam ser usados para nos afastar da escravização mental e para podermos “pensar melhor”.

O pensar melhor é aquele momento de foco e persistência, cruzando vários pontos de vista ao invés de se deixar conduzir como “manada”, seguindo um ‘pensamento padrão’ no piloto automático.

O pensar ajuda a projetar o que desejamos e inspira a procurar meios para conseguir isso.

É urgente sermos cada vez mais criadores e usuários de uma tecnologia que nos coloque efetivamente em rede, formando uma comunidade reflexiva, consolidando uma estrutura que auxilie a ‘pensar bem’, com paciência e humildade.

É justamente a reflexão que impede que tenhamos uma vida automática e distraída.

Tecnologia sem Alienação

Tecnologias são verdadeiras catalisadoras da comunicação, da liberdade de pensamento, da capacidade de agregar forças e estruturar a organização das pessoas em torno de ideias e projetos.

Tecnologias são fontes de entretenimento, informação, produtividade, bem como fontes de solução para inúmeras questões.

Tecnologias marcam evolução, cabendo notar aqui que quando o cientista Charles Darwin usou a palavra “evolução”, ele a utilizava como sinônimo de mudança (significado da palavra em grego). Note que doença também evolui, tal como problemas e conflitos. Assim, evoluir é mudar, e a tecnologia mudou a forma como vivemos.

Por isso, é preciso o uso muito maior da nossa inteligência para que não degrademos. É necessário usar a faculdade do pensar, abrindo a mente para novas ideias, ampliando a capacidade de acolhimento, sem abrir mão da identidade.

Nesse ponto, vale notar que, quando existe troca de ideais em espaços públicos, seja no mundo físico ou virtual, entra em cena o conflito.

Evite o confronto, não o conflito.

Tanto o lado positivo quanto o negativo pode vir à tona em um cenário de troca de informação e debate. O ambiente virtual favorece discussões e a livre manifestação do pensamento, especialmente quando é possível se esconder sob o anonimato.

O problema não é o conflito, que nada mais é do que uma divergência de ideias. A intenção do conflito é chegar a um consenso por meio do diálogo.

Porém, há vezes em que o conflito é degenerado. Quando uma pessoa tenta anular ou até mesmo excluir a outra, tem-se o confronto. O conflito é bem vindo, o confronto não!

Antes de cruzar uma linha de pensamento, vale prestar atenção, tentar capturar o que outro quer dizer, analisar que aquela pessoa só pensa diferente, não é um inimigo. Cada um de nós precisa ter uma compreensão sobre o lugar das diferenças. Nisso reside a tolerância.

Reconhecer as diferenças não é o mesmo que exaltar desigualdades. Olhar o outro como Outro e não como estranho é a chave para inspirar o crescimento coletivo.

Mais do que tolerar, é importante acolher. Acolher significa tomar o outro como igual na dignidade e na possibilidade de contribuição. Afinal, todos tem um papel ímpar na sociedade.

O valor maior da tecnologia

Assim, o valor maior das tecnologias de informação e comunicação é externado quando se entende que todos são fonte ilimitada de conhecimento.

Nenhum de nós sabe tudo, o tempo todo, de todos os modos. O mundo digital vem justamente a somar quando expande nosso acesso a um ambiente vasto de informação, ideias e possibilidades.

Não é obrigatório gostar de tudo nem de todas as pessoas, contudo respeitar mesmo aquele de que não se gosta é sinal de inteligência. E esse talvez seja um dos maiores legados da tecnologia, enquanto terreno fértil para o nosso próprio desenvolvimento sócio-emocional.

Como a tecnologia tem impactado a sua vida? Você é autor ou refém do mundo digital?

Celi Helena

Graduada em Psicologia, Especialista em Psicoterapia Junguiana, Psicossomática e Psicogerontologia. Atua na área clínica com psicoterapia, técnicas corporais de relaxamento, orientação vocacional e de carreira, programas pré e pós-aposentadoria. Participa de palestras/workshops sobre envelhecimento e preparo para a aposentadoria. CRP: 06/104040.
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